'uma cestinha com coisinhas de lembrar'
Ela gosta de dias claros, mas prefere escrever no seu canto escuro de onde pode ouvir os cantos dos pássaros que pousam em sua janela imaginária, as batidas das panelas na cozinha e os gritos de alguma criança que sempre brinca pela casa.
Tem dias leves, embora o trânsito e as pessoas que andam feito “baratas tontas” pela cidade fazem-na acreditar que mora no núcleo do inferno. Pensa em São Luis como uma cidade engraçada que tem um contexto histórico digno de uma grande capital e uma contemporaneidade que lhe dá nojo. Um jeito de fazer política desgastada e uma grande colaboradora da poluição do meio ambiente, a começar pelas praias e rios poluídos.
Lembro que uma vez ela me falou:
“Às vezes tenho vontade de fugir ou sumir daqui, mas já descobri que mal consigo passar sete dias longe de casa, conseguir eu até consigo, mas vou ficando doente aos poucos, deixando os meus pedaços antes de partir e com uma vontade de me colar imediatamente quando estou de volta.”
Isso já gerou alguns comentários e lhe garantiu alguns títulos entre amigos, quando em meio a viagens resolvia voltar ou desistir na véspera. Mas o que seus amigos realmente não sabem é do amor que ela tem pelo ambiente em que vive.
Talvez ela nem ame tanto a sua cidade, mas sim as pessoas que completam sua vida.
Nunca foi uma menina de levar a vida tão a sério, nunca fez a mãe acreditar que um dia se tornaria uma médica, na escola sempre aprendeu só o que achava necessário pra si, estudava pra fazer notas, passar de ano e se livrar de algumas broncas.
Detestava matemática, tolerava física e química, mas sempre foi apaixonada pela literatura, para quem fez juras de amor eterno e que se pudesse lhe pediria em casamento.
Quando terminou o ensino médio, a primeira coisa que exigiu de si foi um emprego, o plano era fazer dinheiro e sair, não da cidade, recusara vários convites, Florianópolis da tia, Rio de Janeiro do tio, quase foge pra São Paulo com a prima, - “Mas nós vamos viver de que mermãm?”- foi o que pensou.
Trabalhou um ano e uns meses, e esse emprego foi o seu primeiro contato com a responsabilidade, até então nunca tinham se encontrado, não tiveram um bom relacionamento, ela [responsabilidade] sempre exigente e Ela nunca se tornaria um robô.
O fruto doce dessa relação foi o despertar do seu interesse pela “Comunicação” que pretende até hoje cursar, quem sabe alguns anos depois, o fruto amargo é que na época nunca conseguiu fazer dinheiro suficiente para se tornar independente.
Creio que já sabia desde cedo das dificuldades que encontraria pela frente, era filha única, mas isso nunca chegou a ser um problema, por várias vezes se sentiu só, como todas as pessoas que sentem falta de afeto, carinho, companheirismo e principalmente de “um amor pra vida toda”.
Aterrorizavam-lhe dizendo: “Filha única sofre demais, é egoísta e não percebe, acha que o mundo gira a seu redor e tudo lhe pertence”. (Meu Deus que absurdo! O que vocês queriam que ela fizesse!?)
Talvez só o seu próprio coração a compreendesse, a esse dera um apelido nada sugestivo. “Jesus! Meu coração é muito va-ga-bun-do”. A adolescência foi a fase mais cretina por qual ela passou, afinal de contas, passava bem longe dos padrões de beleza da época. Teve algumas paixões, lógico que todas essas foram platônicas, ainda bem.
Uma dessas paixões foi quem a apresentou a literatura, começou a ler para agradá-lo, sentir-se um pouco mais perto do amado, ter sobre o que conversar. Mas a paixão foi embora e a literatura ficou.
Pensou a pouco tempo que talvez seu coração estivesse cansado ou já teria lido [e a pouco vivenciado] todos os livros sobre ‘desilusões amorosas’, já não se apaixonava mais. Diz-se madura e segura dos seus sentimentos, se é que existe alguma forma de segurança em relação a isso.
Surpreendeu-se recentemente quando um moço muito especial a fez sentir um gostinho que há tempos não sentia, nunca escondeu isso de ninguém, tem encontrado ultimamente uma dificuldade absurda de esconder a verdade, até tenta, mas em relação a esse moço qualquer tentativa parece idiota.
Pensa que poderia ser um pouco normal e mentir às vezes como todo mundo faz, mas como ela mesma voltou a pensar e dizer a si: "Qual é graça de ser quem eu sou e não fazer e nem dizer o que eu quero, o que penso ou que sinto?". Concluiu: - nenhuma.
Apaixonada pela vida, respira música e inspira poesia, a música é o que lhe move, os livros são o que lhe alimenta. Tem vários amigos, não consegue diferenciar uns dos outros, todos são e foram importantes para sua formação, e quando digo amigo, não quero dizer desses que você fala por casualidade, quero dizer desses que você passa a tarde enchendo a cara no shopping ou rolando de rir pelas calçadas, desses que te ligam pra saber como você está e por que sumiu? os que pedem para ligar a TV e ver de quanto o Palmeiras está ganhando do Flamengo. “Porra” até parece coisa de “videogame” Palmeiras 2 x 0 Flamengo [lenda!].
Recentemente um amigo deu a melhor definição sobre a sua pessoa:
Ela diz: quero saber da estranha.
Amigo diz: estranha, como é esquisita, sei lá...
Ela diz: Explique ou desenhe no espaço em branco abaixo... kkkk
Amigo diz: como uma pessoa consegue ser “divertida – sensível – racional –depressiva – supersocial – triste – alegre - cachaceira” ao mesmo tempo?
Ela diz: “Acho que foi a mais surreal definição de todos os tempos da minha vida. Bom, faço o máximo pra ser autêntica e feliz, quem sabe um dia eu consiga juntar todos os pedaços dos meus sonhos e triscar apenas com as pontinhas dos dedos naquilo que acredito ser o amor. O bom mesmo é não deixar que a solidão me acompanhe e sempre ficar perto das pessoas que me amem de alguma maneira. Comecei a ficar rica sem dinheiro, depois que aprendi a amar”.
Ela poderia ser a moça da cantina, o cara da esquina, o velho sentado na praça. Ela poderia até ser você, mas ‘Ela’ sou ‘EU’.